Indústria cresce abaixo do esperado em abril e reforça cenário de desaceleração gradual
A produção industrial brasileira subiu apenas 0,1% em abril frente a março, resultado abaixo das expectativas de mercado, que variavam entre 0,3% e 0,7%. Na comparação com abril de 2023, houve retração de 0,3%, interrompendo uma sequência de dez meses de alta. Ainda assim, o setor acumula crescimento de 1,4% no quadrimestre.
O desempenho modesto fortalece a leitura de que a indústria caminha para um desaquecimento gradual, com expectativas de crescimento mais modesto em 2025. A política monetária restritiva – com juros elevados – tende a se manter por mais tempo, segundo analistas.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, destacou que o resultado de abril foi menos disseminado do que no mês anterior, com alta em apenas 13 dos 25 segmentos pesquisados. Os destaques positivos foram os setores extrativo e de bebidas, enquanto os derivados do petróleo e o setor farmacêutico registraram as maiores quedas, revertendo o bom desempenho de março.
Ela observou que segmentos como veículos e alimentos seguem em desaceleração no acumulado de 12 meses, refletindo o impacto de crédito mais caro, alta inadimplência e menor concessão de financiamentos. Apesar disso, o nível de atividade ainda é considerado robusto. “O esfriamento é lento e ruidoso. Isso deve reforçar a mensagem do Banco Central sobre a manutenção dos juros em nível restritivo até que haja sinais mais claros de desaceleração e impacto nas expectativas de inflação”, afirmou.
Entre as grandes categorias econômicas, houve avanço em bens intermediários (+0,7%), bens de capital (+1,4%) e bens de consumo duráveis (+0,4%). Já os bens de consumo semiduráveis e não duráveis caíram 1,9%, segundo Igor Cadilhac, economista do PicPay.
A instituição projeta alta de 2% na produção industrial em 2025, diante de um cenário de economia global mais lenta e juros altos, mas com mitigação de impactos graças à balança comercial favorável e estímulos à atividade econômica.
Na mesma linha, a XP avalia que a indústria deve perder força de forma gradual em 2025. A redução da capacidade ociosa e os juros elevados devem pressionar o setor, embora a resiliência do mercado de trabalho e medidas de estímulo sustentem a demanda no curto prazo. A projeção da XP para o crescimento da produção industrial em 2025 é de 2%, ante os 3,1% registrados em 2024.
Claudia Moreno, do C6 Bank, destacou a frustração com o desempenho da indústria de transformação, que caiu 0,5%, frente à expectativa de alta de 0,1%. Ela prevê retração de 0,5% na produção industrial em 2025, após crescimento de 3,1% em 2024. A projeção para o PIB é de 2% em 2025 e 1% em 2026. O banco espera que a Selic suba para 15% na próxima reunião do Copom, embora reconheça a possibilidade de manutenção. A tendência é que os juros sigam elevados até o fim de 2025.
Rafael Perez, da Suno Research, destacou a alta de 1,4% nos bens de capital em abril, acumulando 8,3% em 12 meses. Segundo ele, o desempenho está ligado à antecipação de importações de máquinas, diante de incertezas nas cadeias globais de produção. Contudo, setores mais cíclicos vêm perdendo força, impactados por juros altos, crédito restrito e instabilidades externas.
Para Perez, o setor extrativo pode continuar se recuperando em 2025, mas com limitações impostas pela queda nos preços do petróleo e do minério de ferro. Já a indústria de transformação segue vulnerável a custos de importação e riscos da guerra comercial.
Luis Otávio Leal, da G5 Partners, lembrou que o índice de difusão – que mede o percentual de setores com crescimento – caiu de 55,1% em março para 43,3% em abril, reforçando a leitura de desaceleração. Segundo ele, o nível altamente contracionista da política monetária deve impactar progressivamente a indústria, especialmente o segmento de transformação. A projeção preliminar indica possível retração do PIB industrial no segundo trimestre – a segunda consecutiva.
Texto: Redação com informações de Infomoney
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