Calor sufocante marca o início do verão amazônico em Manaus, com sensação térmica de quase 40 °C
A capital amazonense entrou oficialmente no chamado “verão amazônico”, período que marca a redução das chuvas e o avanço do calor mais intenso sobre a cidade. Nas ruas, os reflexos já são claros: clima abafado, sol forte desde as primeiras horas do dia e sensação térmica que tem ultrapassado os 38 °C.
Com o céu mais limpo e a presença constante do sol, moradores enfrentam uma combinação de calor elevado e umidade, que agrava ainda mais o desconforto. A estação seca na região Norte deve seguir até outubro, segundo especialistas.
Leonardo Vergasta, meteorologista da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), explica que, ao contrário de outras regiões do país, o Norte não vive as quatro estações tradicionais. “Aqui, lidamos basicamente com duas fases bem marcadas: uma chuvosa, de novembro a abril, e outra seca, que começa em junho e se estende até o fim de outubro”, detalha.
Essa mudança no regime climático está diretamente ligada ao deslocamento de sistemas que influenciam as chuvas na Amazônia, como a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e a Alta da Bolívia. Com menos nebulosidade, há maior incidência solar na superfície, o que favorece o aumento gradual das temperaturas ao longo dos meses.
Clima abafado e impactos urbanos
Embora os termômetros apontem temperaturas em torno de 32 °C, a umidade do ar entre 50% e 80% cria a sensação de que o calor é ainda maior — com índices que chegam próximos dos 40 °C. A umidade, aliada à falta de vento e ao excesso de concreto, faz com que a cidade se torne ainda mais quente e desconfortável.
Além dos fatores climáticos naturais, Vergasta destaca que o crescimento desordenado de Manaus contribui diretamente para a intensificação do calor. “A urbanização avançou sobre áreas verdes, substituindo vegetação por construções e asfalto. Isso criou verdadeiras ilhas de calor dentro da cidade, onde a temperatura pode ser significativamente mais alta que em áreas com cobertura vegetal”, afirma.
Mudanças climáticas em curso
Segundo levantamentos do Labclim/UEA, a temperatura média na Bacia Amazônica aumentou cerca de 0,9 °C nas últimas três décadas. Esse aumento está associado tanto ao desmatamento quanto às mudanças climáticas globais, intensificadas pela emissão de gases do efeito estufa.
Nos últimos anos, especialmente durante a atuação do El Niño, a cidade enfrentou recordes históricos de calor. Em 2023 e 2024, as anomalias chegaram a 3 °C acima da média. Para 2025, a previsão é de um cenário mais equilibrado, com temperaturas dentro dos padrões normais, embora ainda elevadas.
Alerta para os próximos meses
Mesmo com a ausência de extremos, o verão amazônico exige atenção. A seca favorece o aumento das queimadas, especialmente em áreas mais ao sul do estado, como nos limites com Rondônia e Mato Grosso, onde o risco é maior. A exposição prolongada ao calor também pode gerar efeitos negativos à saúde, como desidratação e agravamento de doenças respiratórias.
Especialistas recomendam que a população evite atividades ao ar livre nos horários de pico de calor, mantenha-se hidratada e busque ambientes bem ventilados. O uso de roupas leves e a atenção à qualidade do ar são fundamentais neste período.
Enquanto o verão amazônico se intensifica, o desafio para as cidades da região é equilibrar desenvolvimento urbano com estratégias que amenizem os efeitos do calor extremo — cada vez mais frequente e preocupante.
Texto: Redação
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